É incrível como esta copa está nos mostrando que a maioria
dos brasileiros é um cambista de ingressos em potencial. Em um grande evento
qualquer, quando não existem mais ingressos nas bilheterias e os cambistas os
vendem por uma fortuna, todos reclamam e dizem que isto é um absurdo. Mas o que
está acontecendo nesta copa? Pessoas comuns (as mesmas que reclamam quando o
ingresso é muito caro na mão do cambista) comprando ingressos a preços padrão
da organização do mundial para vende-los muito mais caros no mercado
paralelo. É extraordinário o número de pessoas que está fazendo isso.
A figura do cambista é frequente em qualquer evento,
principalmente em um evento do porte de uma copa do mundo, onde existem muito
menos ingressos que pessoas que o querem. O que parece diferente, pelo menos
nos eventos que já assisti e acompanhei, é a quantidade de pessoas que não são
cambistas profissionais e nem pretendiam ser nesta copa, aproveitando a
oportunidade e se tornando um deles. É mais uma vez a cultura do jeitinho
brasileiro, da vantagem, falando mais alto. As pessoas compram ingressos, às
vezes para si ou para amigos e familiares, e quando percebem que podem “se dar
bem” preferem vender a terceiros, mesmo contra as regras, e deixar
seus convidados de fora da festa. E o pior, a coisa cresceu tanto que tem gente
tentando comprar ingresso somente para revenda. Revenda no mercado paralelo e
proibido, pois existe a revenda legal e oficial na página de internet da
organizadora da copa. O problema é que na revenda oficial não há lucro, os
ingressos são revendidos pelo mesmo preço da compra. Enquanto a revenda do
mercado paralelo leva a lucros exorbitantes.
Isso está ligado a nossa cultura de querer tirar vantagem em
tudo, mesmo que contra a lei, como descrito no texto “O brasileiro e a corrupção”. Quando algumas pessoas perceberam que poderiam comprar (muitos
tiveram sorte no sorteio dos ingressos) um tíquete e revende-lo por um valor
dez vezes maior que o de face, formou-se um enorme balcão de
negócios destas entradas (uma espécie de mercado negro), principalmente na internet. Engraçado é que isso poderia
ser evitado caso fosse cobrada a identidade das pessoas nas entradas dos
estádios, uma vez que o ingresso é nominal e a revenda que não seja a oficial é
proibida. Mas como isso não é feito, o mercado paralelo dos tíquetes nesta copa
só cresce.
Olhando esta situação pelo lado do comportamento humano, o
interessante é que as pessoas, em geral (obviamente existem pessoas que não
compactuam com isso e pensam diferente), reclamam, gritam e protestam quando
vêem um individuo tirando vantagem de outro. No entanto, quando tem a
oportunidade, mesmo contra as regras, fazem o mesmo sem pensar duas vezes. No
presente caso, compram ingressos de jogos que nem querem assistir somente para
ter lucro na revenda (que é proibida), tirando a oportunidade das pessoas que querem assistir
aquela partida de comprar o ingresso da maneira oficial e legal. Como diz aquela velha frase que serve
perfeitamente para nossa sociedade: se a farinha é pouca, meu pirão primeiro.
Só que o pirão, no caso dos cambistas de ocasião, é para vender, de maneira
proibida, e com muito lucro.
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