Nossa sociedade vive um surto de coitadismo. Qualquer um que
tenha algum problema na vida, pode fazer o que quiser, que está perdoado.
Afinal é só um coitado, incapaz de assumir responsabilidades. Se uma pessoa
vive na rua (ou em alguma condição de pobreza) ou é menor de idade, ela tem
licença para roubar, estuprar ou matar. Dizem que essa pessoa é só uma vítima
da sociedade e que esta é a verdadeira culpada, já que não soube cuidar de
todos os seus membros. Interessante que muitos tem uma preocupação maior em
fazer um bandido não assumir sua responsabilidade do que fazer que um
trabalhador que acorda às cinco da manhã, utiliza três conduções, leva 2 horas
para chegar ao trabalho e é assaltado por esse bandido (às vezes até morto)
tenha uma vida um pouco menos difícil.
Não concordo e não consigo entender este pensamento que torna o bandido em coitadinho. Falta
de alguma condição financeira ou social não é motivo, nem desculpa, para se
transformar em criminoso. A maioria das pessoas, algumas muito pobres, não
comete crimes. Pelo contrário, o que falta em dinheiro para alguns, sobra em
honestidade. Por outro lado, tem muita gente com muito dinheiro e pouca
honestidade. Ou seja, caráter e honra não tem qualquer ligação com dinheiro.
Embora muita gente considere, muitas vezes por se sentir culpado em ter uma
situação melhor, que quem tem uma condição financeira/social ruim tem motivos
para ser bandido.
Essa culpa, talvez, venha da nossa formação como país. Uma
formação católica forte como a nossa, pode ter deixado esse tipo de cultura em
nossa sociedade. A ideologia católica da idade média dizia que a pessoa devia
ser resignada com sua situação social. Se nasceu pobre, tinha que viver assim
para sempre. Trabalhar para ganhar dinheiro e tentar mudar de vida não era correto,
era ganância e pecado. Diferente das ideologias protestantes que foram surgindo
ao longo do tempo, como o calvinismo, que pregava que evoluir socialmente pelo
trabalho era o correto e que ficar rico era uma confirmação dos céus que esta
pessoa estava no caminho certo. Portanto, nos países católicos, ascendência
social era motivo de culpa. Enquanto em outros países (por exemplo, Holanda e EUA), era motivo de orgulho e de confirmação
de que esta pessoa era um escolhido dos céus.
Talvez, isso explique porque aqui algumas pessoas se sintam
culpadas por ter uma condição social melhor que outras e defendam alguns
bandidos só porque estes são mais pobres. O que não acontece em outras
culturas, onde bandidos são bandidos, não importando se são ricos ou pobres e a
responsabilização deles com cadeia ou até morte (na ação policial ou por uma
pena de morte) é aplaudida pela sociedade. Neste trecho, gostaria de deixar
claro que sou contra pena de morte de qualquer tipo, pois não acredito nem um
pouco em sua eficiência. Mas sou a favor que uma pessoa que assalta, estupra e
mata seja responsabilizada por isso nos termos da lei, independente de ser rica
ou pobre. Infelizmente, não é isso que ocorre em nosso país. Os bandidos ricos sabem
e tem condições de driblar o sistema e os bandidos pobres, cada vez mais, são
tratados por muitos como vítimas da sociedade. Ou seja, cresce a impunidade por todos os lados.
O que acho irônico é que muitas destas pessoas que
acham que determinado bandido não deveria ser punido porque não teve chance na
vida (muitos políticos aqui incluídos), têm condições, mas não fazem nenhuma
ação concreta para criar oportunidades destas pessoas evoluírem
financeiramente por meio do trabalho, principalmente com uma educação de qualidade. Acredito que
seria muito melhor para todos, se esses políticos criassem métodos e ações para
ajudar as pessoas que precisam ao invés de ficarem defendendo bandido a não assumir
responsabilidade por seus crimes. Mas acredito que com o surto de coitadismo dos dias de hoje, a
segunda opção dê muito mais voto e visibilidade que a primeira.
Muito interessante a relação que você mostrou entre a situação social e a formação da cultura baseada na influência religiosa. Também entendo que as crenças de um povo acabam repercutindo em muitos outros aspectos e poucos conseguem perceber a causalidade. Mas explica muita coisa. Flavia Camargo.
ResponderExcluirÉ verdade, a influência religiosa tem relação com vários aspectos de uma sociedade e explica muita coisa mesmo. Obrigado pelo comentário.
ExcluirNão gosto desse tipo de coitadismo que é tolerado e estimulado por instituições diversas e principalmente pelo governo no Brasil.
ExcluirAlfeu, também acho que o coitadismo não deve ser estimulado. Obrigado pelo comentário.
Excluir